segunda-feira, 4 de julho de 2016

FAZER MISSÃO NA EUROPA? Pra quê?


Há poucos dias ouvi de um amigo que amo em Cristo e respeito muito, um infeliz comentário que teria saído de minha boca a algum tempo atrás, não fosse a vontade Soberana do Senhor em dirigir-me a determinadas leituras e discussões. O contexto era “fazer missões na Europa”. Segundo meu amigo, “estes lugares não precisam de missionários”. Fui desafiado, no curso em que estou fazendo, a uma atividade que falava justamente a este respeito. E quero compartilhar minhas impressões sobre o assunto.
A idéia de que fazer missões em países desenvolvidos é desnecessária ou menos importante é no mínimo pecaminosa. Do que depreendemos esta idéia? De que quem é rico, lhe basta a riqueza? Seria inveja? Não é novidade que um dos grupos menos evangelizados no mundo são os mais ricos entre os ricos. E os que vivem na linha da miséria afetados pela crise economica mundial nas ruas de Londres, Paris e afins; lhes basta dormir ao relento a beira do Rio Sena? Eles não precisam ouvir de Jesus? E os cidadãos europeus que foram criados numa Europa secularizada e NUNCA ouviram o evangelho verdadeiro, pouquíssimas vezes tiveram oportunidades de se relacionar com cristãos de fato? Estes não são dignos de receber e ouvir as verdades da palavra de Deus. O ide é à TODO o mundo e à TODA criatura.
A alguns séculos atrás, muitos missionários partiam da Europa fazendo justamente aquilo que Karl Barth (1959, p. 120) define como “a raiz da existência e ao mesmo tempo a raiz também de toda a tarefa do povo de Cristo” que é ir “ às nações com o propósito de testificar o Evangelho”. Segundo Jim Memory (ele e sua esposa, Christine, plantaram igrejas na província de Córdoba, no sul da Espanha durante 14 anos. Hoje ele é vice-diretor regional de ministérios na European Christian Mission International) autor do artigo “O paradoxo da Missão Cristã na Europa”, para a revista Ultimato, edição 337, “as gerações anteriores de cristãos europeus (partiram) para outros lugares para compartilhar sua fé com muçulmanos, hindus e outros; agora (esta geração) têm a oportunidade magnífica bem à sua porta. Em sua misericórdia, Deus os trouxe até nós.” Porém a geração de muçulmanos e indus que chega hoje a Europa, não é mais a mesma e nem encontrou uma mesma Europa, com cristãos ativos e vivos do ponto de vista missiológico.
A Europa de nossos dias como disse Jim Memory no mesmo artigo, é um paradoxo. “Grandes catedrais e igrejas históricas se espalham por todo o continente; ainda assim a porcentagem de europeus com ligação significativa com a Igreja nunca foi tão baixa.” Estaria a Europa em crise, no sentido da missão? Não podemos crêr que a tarefa do povo de Cristo não tem sido executada; talvez com mais relutância, com menos fervor ou empenho, com recursos parcos, mas tem. O Senhor sempre tem os seus, sempra há joelhos que não se dobram ao secularismo e, alem destes, há outros povos enviando missionários a esta Europa, a este povo que afastou-se de princípios cristãos e tem chafurdado na lama do ateísmo, racionalismo e outros “ismos” totalmente contrários a vida da Igreja de Cristo. Nas palavras de Jim Memory: “Não podemos mais depender de nossas denominações e instituições. Estamos fracos demais para sobreviver sozinhos, de modo que Deus tem facilitado parcerias entre igrejas e agências missionárias por todo o continente e por todo o mundo.”.
Poderia um continente que outrora foi o berço da reforma, dos grandes missionários, hoje estar em crise e totalmente alheio e indiferente a aceitação da Palavra de Deus? Infelizmente é o que se vê. A Europa, o berço da Reforma Protestante, dos grandes Avivamentos, casa de grandes nomes da Literatura Cristã, dos grandes teólogos e avivalistas através dos séculos, hoje jaz deitada nos braços do secularismo. Não me proponho aqui a definir ou tentar explicar esta crise, este acontecimento fatídico, apenas quero lembrar o que o escritor de Provérbios 16.18 nos diz: “A soberba precede a ruína, o espírito arrogante vem antes da queda.” Hoje, nós brasileiros, estamos entre os povos que podem ajudar, enviar missionários, orar e jejuar pela Europa, se isto nos causar soberba e arrogância, em vez de compaixão e amor, seremos então a próxima Europa. Finalizo ainda com uma frase de Jim Memory “Parece-me que nossa fraqueza como cristãos europeus é, paradoxalmente, nossa maior força.” A ausência de cristãos ou missionários autóctones, faz com que haja um grande número de enviados, e isto tem feito a diferença. Missionários que vão à Europa com a visão de ganhar vidas para Cristo e lá doam-se por amor ao Evangelho de Cristo, não apenas com palavras, mas em obras, trabalhos sociais, enfim, sendo os braços, mãos, pés, olhos e mente de Cristo numa Europa carente da presença dEle, estes têm feito grandes colheitas para o Reino. A estes, tanto quanto aos que fazem missão com o mesmo sentimento em países de terceiro mundo será dado a recompensa devida segundo a justiça divina.
PARA PENSAR: Tão pecaminoso quanto fazer missões na europa para desfrutar dos privilégios de lá estar, é fazer missões em Guiné-Bissau para fazer “selfie” com os marginalizados do terceiro mundo e postar nas redes sociais para ganhar prestígio, elogio e glórias terrenas. Quem não é missionário na Europa, não será nem aqui, nem lá, nem na China!

Nenhum comentário: