terça-feira, 12 de agosto de 2008

MISERICÓRDIA...


Hoje existe algo que preciso muito. Algo que é suscitado pela miséria, para ser mais exato, pela “minha” indigência. Este algo, que não quero chamar assim, por ser tão mais sublime que um simples “algo”, é o que tem me mantido vivo e sobrevivendo. Este tesouro que de que necessito é maior que bens e mais precioso que a mais cara jóia; é a tal misericórdia. Preciso dela, desejo ser abraçado e levado para bem perto do coração do meu amado, aquele à qual meu ser suplica. Já me disseram que ela só alcança os miseráveis, os desprezíveis, os perversos e malvados; pois então quero me autodenominar “o pior deles”, e mais uma vez gritar: Misericórdia Senhor.
Misericórdia por olhar tanto o argueiro que está no olho do próximo e não cuidar em retirar a trave que está no meu. Sou tão néscio que me sinto, às vezes, no direito de julgar e até mesmo “forçar” um sermão que, se fosse um chapéu, entraria perfeitamente em minha cabeça, e creio que só na minha.
Misericórdia por distanciar sua presença e sua vontade para mim, de todos os “meus” projetos de vida. E o mais chocante é perceber que faço isto com a maior normalidade.
Misericórdia por ser tão superficial em minhas convicções e certezas, tão raso em minha fé, enfim, por viver um cristianismo de ribeirinho onde não experimento a inigualável sensação de navegar em águas profundas.
Misericórdia por amar de mentira, por chorar de mentira, por viver o “não” quando digo o “sim” e o sim quando digo não. Meu choro não te convence, nem a mim mesmo e meu amor não traz resultados, não é prático, ativo, nem verdadeiro.
Misericórdia por estar tão longe de ti, na minha intimidade; lá onde a porta se fecha e os joelhos “não” se dobram. Pareço teu íntimo, teu amigo sim; mas só na frente dos outros; assim como os fariseus. É tão difícil admitir, mas esta máscara, de tão usada, já se apegou a minha face; de tanto tempo sem lavar os pés, a sujeira está impregnada neles.
Misericórdia por me deixar envolver na teia da secularização e, sendo tão descrente, estar eivado pelo medo, pela ansiedade, pela ambição, pelo consumismo enfim. Preciso do remédio, mas tenho a terrível sensação de ter perdido o endereço da farmácia e do consultório do especialista.
Misericórdia por me preocupar mais em fazer uma boa apresentação do que em saber se tu estas satisfeito com meu louvor. Quando fecho os olhos, não sei mais se é para me concentrar na minha “inigualável” voz, ou se para te ver.
Misericórdia por não dar o meu melhor para ti naquilo que faço para teu reino. Meu tudo é direcionado para o que me trará lucros aqui; e quando me empenho é por competitividade ou para colher os louros que virão.
Disseram-me que ter misericórdia é trazer o miserável para perto do coração, então aqui estou eu, com tudo o que tenho e sou, e sei que quando me vês podes perceber que sou um miserável, alguém digno de dó. Toma-me Senhor e leva-me pra perto do teu coração. Li no dicionário que a misericórdia é uma compaixão suscitada pela miséria alheia. Espero Senhor, então que minha miserabilidade tenha lhe causado compaixão, que me perdoes e me deixes repousar, certo de que me acolhestes, e dormir ouvindo o mais belo som que o mundo já conheceu: as batidas do teu coração. Assim saberei que fui envolvido pela tua indescritível misericórdia.

Nenhum comentário: