sexta-feira, 1 de maio de 2009

EU SONHEI UM SONHO! Susan Boyle; uma lição de vida.

Há um mal hediondo, embaraçoso e vil em nossa sociedade é o tal do “pré-conceito”. Somos assim; de taxar as pessoas pelo que vemos no exterior. A tal história da “primeira impressão é a que fica” vale muito para o visual, a fachada, a casca. E se você não está nos padrões de beleza pode perder muita coisa. Neste meio consumista, voltado somente para o materialismo, que vive de aparência e nada mais, infelizmente é tão comum pessoas serem caracterizadas pelo que vestem, usam ou tem e não pelo que há no interior delas.

Estou falando isto porque quero contar do que vi a alguns dias na internet. O vídeo de uma pessoa que, para os padrões hodiernos seria no mínimo estranha. Seu nome: Susan Boyle; uma senhora gorda, de estatura mediana e meio desajeitada de 47 anos que, segundo ela mesma, está desempregada, mora sozinha num vilarejo desconhecido, nunca casou e nunca foi beijada. Não quero entrar em detalhes ou tentar conjecturar sobre a vida dela para tentar dar mais emoção ao texto, mas algo me diz que o fato de ela estar assim, tão à margem da sociedade tem algo a ver com seu exterior. Susan aparentemente não tem nenhum atrativo externo, e isto pesou contra ela pelo menos por alguns instantes numa das audições de um programa televisivo em que ela foi participar.

O programa é semelhante ao “Ídolos”, que já foi ao ar algumas vezes aqui no Brasil, chama-se Britains’s Got Talent. Ela se apresentou para cantar e logo que falou foi vaiada, recebeu olhares de deboche e desprezo por parte da platéia e até mesmo dos jurados. Muitos riram do seu jeito desengonçado e visivelmente nervoso, principalmente quando ela falou de seu objetivo profissional “ser cantora”, e mais ainda quando falou o que iria cantar (uma música muito difícil, segundo os jurados). Mas Susan abriu a boca, colocou para fora, talvez, muitos anos de “pré-conceito”, de vaias e olhares de desdém. Ela cantou e encantou! Uma voz divina, perfeita, que fez com que os jurados e a platéia abrissem a boca literalmente de tanto espanto e surpresa ante sua capacidade vocal e, por fim, todos a aplaudiram em pé.

Susan sonhou um sonho; disse isso cantando. Falou que sonhou quando ainda era jovem e destemida, quando a esperança era alta e viver valia à pena. Mas vieram os tigres, os homens cruéis, aqueles que desprezam ou riem dos nossos sonhos; Este desprezo despedaça qualquer esperança e faz até com que pessoas tenham vergonha de continuar sonhando tão alto. Mas Susan sonhou e realizou. Ganhou três sim e foi classificada para a final do programa. Hoje é uma das mulheres mais populares de seu país. Cineastas impressionados com sua história já lhe fizeram propostas de produzir um filme sobre sua vida. O vídeo de sua audição no programa já foi visto milhões de vezes por pessoas no mundo inteiro. Recebeu propostas de muitas gravadoras mundialmente famosas para gravar um álbum solo. E outras tantas coisas mais que nem da pra contar.

O que me levou a escrever sobre isto é perceber que também agimos como esta platéia e estes jurados. A história de Susan se repete todos os dias. Muitos são desprezados e excluídos porque aparentemente não tem talento, não são belos pelo lado de fora; e nós nem nos damos ao trabalho de procurar conhecê-los um pouco mais; nem lembramos que cada um carrega em si a imagem de Deus. Condicionamos-nos tanto a baixeza de rotular pessoas por suas posses e aparência que achamos cansativo a aproximação, o contato, o relacionar-se. A superficialidade dos relacionamentos via internet é mais atraente que uma boa conversa ao pé do ouvido porque a maioria de nós (o homem do século XXI) já não tem mais assunto e inteligência para conduzir um bom diálogo ou disposição altruísta o suficiente para manter uma verdadeira amizade, permitindo assim que vejamos o interior das pessoas.

Para começar a consertar nossos erros, como indivíduo e como sociedade, devemos partir de um auto-exame, de uma "reunião conosco mesmo" como diz Augusto Cury, de rever conceitos e valores, de entender que o cuidado e preocupação excessiva com a casca na qual vivemos, com o corpo físico não nos permite reconhecer o valor essencial do ser humano, nos oculta a intrínseca imagem de Deus. Como diz Philip Yancey e Dr Paul Brand em "À imagem e semelhança de Deus": "Todos nos somos espelhos [...] Cada um de nós tem a capacidade de evocar nas pessoas que conhecemos a imagem de Deus, a faísca da semelhança de Deus no espírito humano." Experimente então olhar com mais compaixão (sofrer junto), com misericórdia (trazer o miserável para perto do coração) para estas pessoas; surpreenda-se e aprenda que há muita beleza onde aparentemente não vemos nada.

Quero concluir com uma frase de William de St Thierry que diz: Conhece-te a ti mesmo, visto que és minha imagem. Então conhecerás a mim, a cuja imagem és feito, e me acharás em ti mesmo.

 

Solus Christus


Jean Rodrigo Batista

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